9 de fev. de 2011

Um engano

"...cília", disse a voz metálica dos altos falantes. Entretida com minha mochila, numa luta covarde entre o zíper e o pacote de presente que nela havia, flagrei-me estática contemplando no vidro o reflexo de um anúncio de cigarro que estava fixado na estação.
Assombrou-me o aspecto real da imagem escolhida e as pessoas que emolduravam o reflexo no vidro somente aumentava a angústia que eu sentia. Era um rosto antigo, macilento, de perfil. Cabelos faltavam na cabeça daquele homem, que tristemente parecia observar os transeuntes do local. Ele ali, sozinho, a frente do maço de cigarro anunciando seu próprio fim. Se não fosse a estranha cor em seu rosto, poderia não tê-lo notado, uma vez que o resto de seu corpo, seja pelas vestes ou pela cor natural, era de um branco encardido esquecido.
Fecharam-se as portas. Despedi-me daqueles olhos lacrimejantes que nunca me viram e que tanto me fitaram. Lacrimejantes?
Mal o coletivo iniciou sua partida e o sujeito pôs-se a espirrar. Senti-me enganada pela comoção indevidamente sentida. Eu deveria prestar mais atenção nas minhas coisas...

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